quinta-feira, dezembro 7

sim, você sabia
não bastar mais fingir,
pois as palavras girariam na sua boca
até cairem, desacreditadas
amargando toda felicidade
que nos fizera radiantes:
nosso amor tinha morrido.

por que então
não vomitou tudo na minha cara
preferindo agarrar-se à comodidade
como se assim não fossemos
mais cedo ou mais tarde
amputar nossos sonhos
sufocando-nos na apatia do dia-a-dia
e melancolicamente
feito dois estranhos sob o mesmo sol,
entristecer como entristecem as fotos
emolduradas e postas sobre móveis
duma sala-de-estar vazia.

sexta-feira, novembro 17

tentara outras vezes
mas a vida retornava mais vazia
deixando tudo drasticamente insuportável
cometeu poesias, gritos, pulsos, abandono
cometeu até amar solitariamente
(ele não mais saberia, ela sempre jurava)
e agora, estava ali, diante do próximo passo
nas mãos um amontoado de acenos
nos olhos, lágrimas acumuladas de tempo
na ponta da língua as palavras, todas
só não sabia como dizer que o amor
que o amor que ela sentia não sabia morrer.

terça-feira, outubro 31

a janela aberta,
céu
palavras respirando outros amanhãs,
poesia
para que eu possa nuvem,
desmedida
azular o outono,
esperança
deixando a falta que sinto de ti,
amor
nas gavetas empoeiradas,
esquecimento

terça-feira, outubro 17

acreditei que se
eu escolhesse bem as cores
faria desse quarto um lugar
menos habitado de mim
menos saudoso de ti
mais isento de nós
...

terça-feira, outubro 10

as roupas despidas de mim
espalhadas pelo chão frio
desse quarto mal iluminado
ruminam sinais de nós dois
feito cicatrizes incolores
vez por outra a visitarem-me
no vazio que eu inventei
agarrada ao refugo da lucidez
para ser absurdamente possível
travestir-me de alegria
onde alegria não há

sexta-feira, outubro 6

a insegurança estava
emaranhada dentro de mim
e tinha dedos magros e longos
que apertavam meu pescoço
com a força exata para não deixar marcas
apenas sufocar lentamente
o amor que julguei não morreria
mas vi tropeçar em si mesmo
(ou no que acreditávamos sê-lo)
segundo após segundo
numa cadência monossilábica
até não haver mais nada
apenas ciúmes, brigas e cenas patéticas
naquilo que resolvemos chamar de fim

quinta-feira, setembro 28

eu sei
é apenas uma madrugada
entre tantas e tantas
que ainda virão
só não precisava ser assim
tão estrangulada
pelo amor que em nós
desistiu antes de saber
pra tudo haver um fim

sábado, setembro 23

o hábito simula felicidade
era o que eu descobria
ao cravar meus dedos
nos sorrisos que o nosso
mundo infestava
e já não mais suportava
a minha presença conosco
mas era preciso
continuar fingindo
para que a vida
seguisse seu rumo
assim mesmo,
amarelecida

sábado, setembro 16

a cada toque seu, eu dizia
não, nós perdemos a medida
e o nunca se tornou longe demais
mas insistias em acreditar nos finais felizes
sem ver a felicidade escapulir diante dos nossos olhos
fingindo não saber que dia após dia
nos era insuportável
disfarçar a incapacidade de percebermos
os cheiros misturados
de nós dois

(um mundo de cheiros imperceptíveis
é um mundo onde cores
desocupam as retinas e a vida fica vaga)


covarde
patético
frágil
indeciso
o homem que eu amo
em mim
morrendo no avesso solitário
de quem fomos

sexta-feira, setembro 8

ontem
eu soube de ti
já não tinhas mais
o teu caderno de poesias
nem desenhavas andorinhas
saudando as cores da primavera
era fim de tarde e o sol parecia cansado
eu te vi de relance a caminhar por uma ruela
quis teu nome de volta à minha garganta vazia de sons

só o que tive foi a certeza de trilhar sozinha o nosso caminho

quarta-feira, agosto 30

banco de praça
VAZIA
caderno nas mãos
SEM PALAVRAS
distantes memórias
ENRAÍZADAS

(eu saberia de ti cada mínimo instante
eu caberia em ti cada mísero centímetro
eu sonharia a ti meus anjos irascíveis
eu amaria você até
o próximo sol poente
nascedouro de estrelas
paridoras de auroras)

segunda-feira, agosto 28

Na mingua
De sentimentos
Estamos trancados
No lado de fora do medo
São-nos poucos os momentos
Preservando o anteceder desse fim
Chacoalhando-me a singela lembrança tua
Sussurrando que para sempre cuidaria de mim

sexta-feira, agosto 25

sol poente
é apenas um traço preciso
carente do oceano

estrelas são fagulhas
num céu desprovido
de cores vivas

e da poesia que me alimenta
nada resta sob minhas pálpebras
já cansadas de te esperar

terça-feira, agosto 22

vários por aqui passaram
já nem sei dos gostos
já nem sei dos humores
já nem sei das camas desfeitas
só o que tenho são fotos desorganizadas

(fotos não guardam o presente
mas impedem a partida do que não mais está)

tudo de nós ficou rabiscado na memória
como quem cantarola baixinho
distraidamente uma canção
em frágeis tons de fim de dia
mais triste que a mais triste das solitárias

(é o que restou nas minhas linhas

que um dia foram escritas só pra você)

sábado, agosto 19

meus dedos sem sono
recusam palavras
foge-me à força
de ti a esperança
trazendo imagens
que eu nunca quis

(já é fim de tarde
da sacada do quarto
vejo o céu desbotando
o azul das estrelas)

tudo o que aprendi
o que senti e o que menti
de nada mais importa
quando calo as páginas
desse pouco amor
que estagnou aqui

quinta-feira, agosto 17

(eu precisava saber
mesmo que fosse para nunca mais)
dos teus olhos, os sonhos meus
dos teus braços, o que me fazia ninar
da tua boca, a esperança dos sorrisos
das tuas mãos, o adeus
(para que restassem apenas lembranças

e não essa solidão desejosa de ti)

segunda-feira, agosto 14

Saiba: eu realmente amo você! E é nas coisas mais simples, naquilo que quase ninguém vê, que o meu amor se faz sem limites. Sinto a sua ausência, pois o teu olhar, a tua voz, a forma com que mexes as mãos ou o teu sorriso que de tão feliz, brilha; tudo, tudo em ti a mim traz alegria. Sim, eu fico contente quando comigo estás. És quem eu amo! E ninguém jamais poderá roubar de mim o amor que sinto por você.
Por mais que todos digam que somos loucos, que somos tolos...Amo você! É por isso que sinto tanta tristeza: por amar você! Porque amar você foi-me proibido. Porque amar só é permitido quando segue regras. Que se danem todas as regras! Porque amar só é possível quando ouve-se a razão. Dane-se toda a razão!
Amar é saber-se junto, independente de onde estejamos. Amar é saber-se com; é saber-se em; é saber-se até; é saber-se um.
Amar não está escrito em bulas, ou livros, ou manchetes. Amar sequer precisa de multidões(amar era pra ser vivido por todos, sem atropelos)
Amar você, é o que preciso. Amar você, é o que me falta.
Hoje, quando senti você partindo, descobri o peso do vazio. Hoje, quando soube que você desistira, porque o mundo foi maior que eu, eu soube o real sentido da tristeza: o que fica, o que nunca partirá, mas que não mais poderá ser vivido, senão em memórias, sonhos e poesia.
Amo você, e mesmo na minha tristeza, sou feliz...
Amo você. Amo você. Amo você.
E como eu queria...como eu queria que você, por um momento, deixasse o mundo inteiro e segurasse as minhas mãos...
Quão infinito haveria de ser...

domingo, agosto 13

o homem que eu amo
sorria manhãs
conhecia os segredos
das minhas noites
de solidão e medo

o homem que eu amo
carinhava meu rosto
cantava pequenas canções
que me faziam sonhar
levando a insegurança daqui

o homem que eu amo
tinha os olhos castanhos
as mãos serenas e firmes
a boca molhada de nuvens
os pés descalços de mar

o homem que eu amo
escutaria meus soluços
abraçaria meus anjos da guarda
e não deixaria a tristeza
saber mais nada de mim

quinta-feira, agosto 10

estive diante do espelho
e os olhos que vi
já não eram mais os teus

por demais cansada
perdida em mim mesma
alcancei o que me fez poesia

e eu só queria
mais um instante
pequeno que fosse
e eu seria tua
outra vez
nem que somente
por mais esse dia...

terça-feira, agosto 8

é desdém
o que jogas no meu rosto
como se eu fosse

ninguém

mas eu amo você

eu amo você

eu amo você

sexta-feira, agosto 4

diminuo-me em mim
o espaço antes
desocupado
agora é teu




teu

quinta-feira, agosto 3

Hoje, acordei sem querer acordar. Era saudade displicentemente acomodada ao lado do meu travesseiro: minha cama, vazia sem ti. Sim, eu sei, todos dirão que isso é a mais pura bobagem e que eu não passo de alguém a sonhar. Mas, o que fazer se desde cedo sonhos me acompanham e, mesmo quando a mim deixam só, posso sentir marcas como que dizendo: acredite, é possível ser feliz. Hoje, percebi que sobrevivo sem você. Eu sobrevivo sem você, escutou? Eu sobrevivo! No entanto, sobreviver está bem longe de ser vida. É que a vida exige mais cores. E flores. Dores também; não eternamente, que é para ensinar de nós a nós mesmos. Então, levantei da cama e corri ao telefone pra dizer todas as palavras que na minha garganta estavam prontas, loucas para sair. Você não atendeu. E a música a tocar era uma daquelas, poucas, que sabem dizer exatamente o que é sofreguidão - e amor. Procurei meu caderno. Escrevi letras mortas. Saí descalça, fui visitar o jardim. Soube do sol uma centelha: mesmo que para nunca mais, é bom, é muito bom amar você!

quarta-feira, agosto 2

guardo minha mágoas
erros
medos
desejos
cicatrizes
meu desespero

naquela gaveta

que você fechou
ao partir
sem dizer adeus

terça-feira, agosto 1

amanheci jardim
teu cheiro em mim
criando raiz